Era uma vez uma vez uma árvore, que seria igual a todas as árvores não fosse a particularidade de ter uma só folha. Nasceu de uma semente mais pequena do que um grão de areia e foi crescendo em terra fértil criando raízes e tornando-se forte resistindo a todos os vendavais que a fustigavam. Todos olhavam para ela por ser diferente de todas as outras árvores. A folha verdejante tornou-se enorme e era o único sinal de vida naquele tronco enorme. Deu frutos como qualquer outra árvore e foi sombra para viajantes que descansavam debaixo dela. Os anos foram passando e a folha fustigada pelo granizo e pelas pragas, foi ficando esburacada. Notam-se as nervuras e todo um esqueleto que lhe permite viver. Aqui e além restam pedaços intactos que continuam com a verdejante vivacidade de outrora. Já poucos olham para ela e aqueles que a olham vêem-na como um prenúncio de morte. Consideram-na inútil por já não dar sombra e não frutificar, quando ela revela a alma de toda a sua estrutura. Um dia cairá e com ela o tronco que lhe sustentou a vida permanecerá de pé. Todas as árvores morrem de pé e a árvore de uma só folha não é excepção.
Olho a folha despojada de toda a sua verdura como se fosse uma toalha de renda onde cada nervura é uma obra de arte trabalhada por experiente tecelão.
Vejo semelhanças entre a folha de uma árvore diferente e a vida de qualquer ser humano.
Vejo diferenças também, sendo que a mais notória é a das árvores morrerem de pé e os seres humanos morrerem em qualquer posição.
Uma folha que revela a beleza da alma quando outra beleza não tem para mostrar. Uma folha que é toalha de renda e teima em enfeitar a mesa da vida.
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