Eu não acredito em destinos. Eu não quero
acreditar. E não venha me dizer que tudo passa e que o que tiver de ser vai ser,
não. Porque meu destino se é que tenho um eu decidi reinventar. Eu tenho
sonhos riscados nas palmas das mãos e não quero sentar e esperar que eles
aconteçam, eu quero ir. Eu tenho desejos nas pontas dos dedos que preparam
minhas pernas para as urgências do meu viver. Aliás, quem precisa de destinos
quando se tem pés afoitos que podem reinventar o chão?
Eu tenho faltas. Sim, eu também tenho faltas,
muitas e é essa incompletude inesgotável que me faz ir em busca dos passos que
são meus nessa vida, ora compassada, ora descompassada. Eu caminho caminhos,
sozinha, meus pés e eu. Eu tenho pés pequenos, pequenos e afoitos, meus passos
são curtos e isso não importa porque eles não me impedem de caminhar. Eu caminho
meus caminhos, certos e errados, mas tão absolutamente meus.
Eu tenho urgências.
Eu tenho um grito que, às vezes, é maior que
eu. E eu grito pra dentro, com os olhos, com as mãos, com o corpo, eu grito.
Grito para não morrer nesses instantes em que viver pesa tanto sobre os ombros
já feridos. Eu grito numa tentativa desesperada de não enlouquecer. Estou
gritando agora, ouves? Eu tenho mortes, morro todos os dias, todos. E significo
a morte como quem significa a vida porque todos os dias eu nasço também. Eu tenho uma alma que ama. Uma casa que me
espera. Um lar onde sou. Tenho um mundo paralelo, onde poucas pessoas conseguem
fazer parte, e lá eu vivo melhor porque sou eu mesmo esse tal mundo. É, eu
existo dentro de mim. Eu tenho um corpo. Eu tenho um peito e, às vezes, penso
que tem um oceano dentro dele, porque ao invés de tum-tá ouço o barulho
do mar, mas é só às vezes. Eu tenho vontade de viver, e isso é bom. Eu tenho uma
trabalheira pela confusão que é não saber onde vai me levar o meu caminho, mas
não ter outra opção. E não resistir.
Eu tenho o agora que é urgente, e já não
espero mais.
sexta-feira, 18 de maio de 2012
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